André Fretta May, o Deka May, teve um retorno triunfal à política tubaronense. Afastado das eleições desde 1992, quando conquistou 520 votos pelo PMDB, se elegeu vereador ano passado com o maior número de votos da cidade: 2.557 votos, já pelo PP. Na Câmara, mantém o espírito crítico de sua coluna no Diário do Sul.
Matheus Madeira
redacao@diariodosul.com.br
“Temos que diminuir despesas da Câmara”
Diário do Sul - Dos atuais vereadores de Tubarão, o senhor é o que tinha atividade menos ligada à política quando se lançou candidato. Acha que isso lhe prejudica na atuação na Câmara?
Deka May - Tudo na vida da gente é política. Nasci dentro de uma família de políticos e isso me deu uma noção exata do significado da função. Estar político não mudou o que eu sou, não alterou meus parâmetros nem os valores essenciais que eu sempre haverei de preservar. E minha atuação dependerá basicamente destas amarras que tenho, e da forma com que eu irei me conduzir diante das várias situações e dos desafios advindos. Tenho convicção de que dá pra fazer política sem sujar as mãos. E isto é apenas o que a maioria de nós deseja. Só isso.
Diário do Sul - Mesmo distante da vida política o senhor foi o vereador mais votado de Tubarão. A que deve este desempenho, superior ao de candidatos por tantas eleições seguidas?
Deka - Acho que foi porque eu só olhei pra frente, não olhei para os lados. Só me preocupei e trabalhei em busca dos votos que eu tanto precisava, e eles felizmente vieram. Nunca falei nada de ninguém, perde-se muito tempo com isso. Penso que usamos o tempo de forma produtiva, de uma maneira positiva, com objetivos definidos, boas propostas e respeitando o eleitor, acima de tudo. Fui durante a campanha o que eu já era, quero continuar sendo e fazendo do mesmo jeito. E que Deus siga me ajudando.
Diário do Sul - O senhor tem pretensão de ser prefeito da cidade, a exemplo de seu pai, Paulinho May (prefeito entre 1977 e 1982)? Que características de sua passagem pela vida pública lhe inspiraram?
Deka - Não tenho pretensão alguma. E sou radicalmente contra essa história de reeleição. Emprego de político não é saudável. Tenho apenas que fazer bem feito o meu trabalho. E sei que vou ter que me esforçar muito para isso. E assim, naturalmente as consequências virão. O que preciso manter é a clareza e a consciência da responsabilidade que tenho de honrar o nome do meu pai e o legado que está aí e que será deixado. E disso, podem ter certeza, eu jamais vou abrir mão.
Diário do Sul - Além de seu pai, quem mais lhe inspira para exercer a atividade política?
Deka - Meu pai e meu avô, Idalino Fretta, são pessoas especiais. E tem minha mãe, a dona Ilza, que soube, durante o tempo que pôde, fazer política social de uma maneira decente, carinhosa, humilde e absolutamente correta. Ela tem o dom, sabe? Uma sensibilidade incrível. Já meu pai tem um carisma inigualável, uma franqueza visceral, características que eu admiro muito. E, por fim, o meu avô, que era um “gentleman”, um senhor educado, paciente e extremamente habilidoso. Exemplos fundamentais em minha vida.
“Nunca sou chamado para nada. É uma pena.
Mantenho meu apoio apenas por coerência e respeito
ao prefeito Manoel e ao vice Pepê Collaço”.
Diário do Sul - Em entrevista ao Diário do Sul, o vereador Haroldo Silva (Dura, do PSDB) criticou o que ele classifica como excesso de projetos de lei por parte de João Fernandes (PSDB) e Evandro Almeida (PMDB). O senhor acredita que há projetos demais tramitando na Câmara?
Deka - Neste país tem lei saindo pelo ladrão e Tubarão, com essa enxurrada de projetos terceirizados e descaradamente clonados, colados e chupados, vai no mesmo caminho. Corre-se o sério risco de se cair no ridículo. Se lei resolvesse tudo, viveríamos num paraíso. O vereador Dura, que tem bem mais experiência do que eu, usou de franqueza, e teve gente que não gostou. Bufou, resmungou e ameaçou, inclusive com represálias. Algo desprezível, uma verdadeira aberração. Para tanto, reafirmo apenas o que disse o vereador Dura.
Diário do Sul - O senhor tem sido um dos vereadores mais combativos ao presidente da Câmara, João Fernandes. Por que há tantos embates?
Deka - Veja bem, eu não tenho nada contra a pessoa dele, aliás, pra te ser sincero acho que eu nem o conheço direito. Ele é uma incógnita! Meu posicionamento é apenas relativo às atitudes. Respeito as pessoas, seja lá quem for. Só não suporto _ ou melhor, ignoro _ gente arrogante, vaidosa, pessoas vingativas que se valem da grosseria para conseguir seus objetivos. Fala demais, ouve de menos, e entende menos ainda. E mesmo assim o sujeito ainda acha que sabe tudo. Pra mim tem sido um verdadeiro exercício de paciência. Infelizmente, por força das circunstâncias, tenho que conviver com isso.
“Neste país tem lei saindo pelo ladrão e Tubarão,
com essa enxurrada de projetos terceirizados e
descaradamente clonados e colados, vai no mesmo caminho”.
Diário do Sul - Como o senhor avaliou a derrota na eleição para a presidência da Câmara, mesmo com a base aliada tendo seis dos dez vereadores?
Deka - Eu não saí derrotado porque honrei minha palavra com o prefeito Manoel. Estarei sempre de cabeça erguida e consciência tranquila. Mas nem tudo são flores e eu, infelizmente, estou pagando um preço enorme por ter sido fiel e correto. Há momentos de extrema humilhação superados apenas por minha natural resignação. O fato é que seis vereadores haviam se comprometido com o prefeito Manoel, cinco honraram a palavra e um não. Infelizmente, covardes e traidores infectam uma boa parte da história humana. Só sei que minha palavra não tem preço. Não há acerto, esquema ou dinheiro que compre. Alguns não resistem ao canto da sereia.
Diário do Sul - Qual a sua análise destes primeiros seis meses da gestão de Manoel Bertoncini e Pepê Collaço?
Deka - O Manoel, desde o término da eleição, vem enfrentando uma barra pesada, viu sua vida pessoal desabar. Do céu ao inferno sem escalas, sem aviso, e isso eu sou obrigado a considerar. Não sei sinceramente como ele tem estrutura para suportar este fardo enorme. É um guerreiro, um herói, e isso me sensibiliza. Sei do seu esforço, mas a cidade não pode parar, já estamos no sétimo mês de governo e a partir de agora as cobranças e a pressão serão cada vez maiores. As expectativas são enormes e há muito por se fazer. Infelizmente, como vereador e parceiro leal, nunca sou chamado para nada, para nenhuma decisão que tenha que ser tomada. É uma pena. Mas, pelo menos por enquanto, mantenho meu apoio – apenas por coerência e por respeito ao prefeito Manoel e ao vice Pepê Collaço.
Diário do Sul - E o que o senhor espera da eleição majoritária? Acredita que o PP fará frente à tríplice aliança que atualmente comanda o governo?
Deka - Espero apenas que o PP seja governo. Tanto é que o partido já escolheu o seu candidato a governador, o ex-deputado Hugo Biehl. Tenho conversado muito sobre isso com o meu amigo, deputado e presidente estadual do nosso partido, Joares Ponticelli. Ele é candidato à reeleição, faz um trabalho brilhante, é um batalhador, uma pessoa honesta, tem meu respeito, é merecedor da minha confiança e terá todo o meu apoio. De qualquer forma, nesta questão estadual muita água vai rolar, e até lá certamente surgirão muitas conversas e algumas possibilidades de alianças. A gente sabe que é quase impossível vencer uma eleição sem uma coligação forte.
Diário do Sul - A representatividade da Câmara aumentaria se Tubarão passasse a ter 17 vereadores, como está sendo discutido no Congresso Nacional?
Deka - Este é um assunto delicado. De qualquer forma, eu pergunto: Quais eram as regras na eleição do ano passado? Só dez se elegeriam, não é? É certo mudar as regras após o término da disputa? Para mim tal alteração pouco mudaria, pois minha responsabilidade e meu compromisso independem do número de vereadores. Acho que quem tem que responder se aceita ou não este aumento são os eleitores. Gostaria de ver o que eles tem a dizer sobre este tal aumento de representatividade. Temos é que diminuir as enormes despesas da Câmara. Isso sim seria positivo.
“Seis vereadores se comprometeram com o prefeito.
Cinco honraram a palavra e um não. Covardes
e traidores infectam boa parte da história humana”.
Diário do Sul - Nesta segunda-feira comemora-se o Dia do Rock e o senhor notabilizou-se como músico, publicitário e empresário da noite em Tubarão e Laguna. Por que acha que a cidade deixou de revelar valores musicais como no tempo do seu Grupo Tubarão?
Deka - Eu poderia ser um advogado, já que é essa a minha formação, mas tenho muito orgulho de ser um músico também. Eu nem sabia desse tal Dia do Rock, mas me considero um roqueiro convicto. Adoro música! Tanto é que trabalhei muitos anos com publicidade, eventos, fazendo festa e tocando pros outros. Quanto aos valores musicais da nossa cidade e da região, acho que hoje eles são em maior número. Mas os tempos são outros. Há muita concorrência. O mercado é predador. O fato de termos sido os primeiros a conseguir um certo destaque estadual e até nacional acabou nos beneficiando.
Fonte: http://www.diariodosul.com.br/entrevista_deka.htm